A promessa do século passado de que a cidade seria o espaço capaz de oferecer qualidade de vida não se cumpriu. Temos agora a missão de ocupar de forma responsável esses “novos lugares”. Queremos levantar essa bandeira na Serra dos Alves, através de um festival de valorização cultural com música, gastronomia e outras manifestações artísticas. Estamos redescobrindo o espaço rural onde estão conservados hábitos que já não estão mais presentes nas cidades e temos a responsabilidade de cuidar de tal conservação. Propondo uma reflexão sobre a Serra dos Alves, estamos levantando os olhares sobre os distritos e seu papel na sociedade.

O entendimento da categoria distritos se faz necessário para delimitar nossa atuação. Os distritos são resultados de divisões de um determinado território. Ele se justifica por oferecer apoio demográfico ao município (FERREIRA, 1990, p. 57).

Vemos aqui uma importante função dos distritos que, muitas vezes por estarem em regiões afastadas da cidade-sede, oferecem alguns recursos que podem ser escassos na zona rural. É importante dizer que existem distritos que são divisões dentro das grandes cidades e que em vários aspectos se diferenciam do nosso objeto, que é Serra dos Alves.

Queiroz nos diz que os distritos se originam pelos “bairros rurais que se organizam como grupos de vizinhança, cujas relações interpessoais são cimentadas pela grande necessidade de ajuda mútua” (QUEIROZ, 1973, p. 95).  Aqui vale destacar a natureza cooperativa e de associativismo que existe nesses lugares que precisa ser desenvolvida através das ferramentas modernas de governança.

Podemos dizer que a origem dos distritos está diretamente ligada às atividades do setor primário (agricultura e pecuária). Dessa forma, mesmo onde o turismo já está se consolidando, essa atividade, como representante do setor terciário, impulsiona novas práticas para essa economia, transformando o cotidiano desse lugar. Nós nos propomos, ao levantar esse tema no Festival, a mostrar que fortalecer a cultura tradicional local trará os moradores para suas origens. Esse movimento fortalece ainda mais a atividade turística, pois valoriza e cria os atrativos culturais.

A geografia nos diz que é na relação com o lugar que as pessoas constroem o seu espaço geográfico. É nesse lugar que está o cotidiano dos moradores e é ele que deve nortear as ações públicas e privadas. Pretendemos, ao alavancar a valorização do distrito e suas origens, mostrar que essas novas relações causadas pela aceleração da procura por novas moradias e pelo turismo, entendam o “lugar” do cotidiano dos moradores como o maior patrimônio desse território.

Outro fator importante de se dizer é que o distrito depende de serviços básicos que só são oferecidos na cidade-sede. Tauil (2003, p. 1) explica que “[…] essas vilas progridem e assumem características de cidade de fato, mas não de direito”. Ou seja, esses lugares assumem funções de cidades, mas não recebem o suporte correspondente do poder público. Pretendemos buscar para o Festival um case de sucesso de governança em distrito para elucidar as possibilidades para Serra dos Alves.

Propomos, então, um festival que traga o olhar para o cotidiano do povoado de Serra dos Alves, trazendo a música como veículo de interação cultural. Valorizar a música como manifestação popular resgata raízes culturais e possibilita a ligação do local com o global.